11 de novembro de 2010

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UM MIDRASH DE RABI CAMÕES

Nesta semana lemos a Parashá Vaietsê. Continuando a saga da última semana, Yaacóv (Jacó) foge de seu irmão Essáv (Esaú), que o ameaçava de morte.

Em suas andanças, encontra seu tio Laván (Labão) e conhece Rachel, por quem se apaixona. Sem ter para onde ir, e estando em segurança em meio a parentes, Yaacóv faz um trato com Laván: trabalharia para ele por sete anos, apenas para receber, em troca, a mão de sua filha, Rachel.

Laván aceita o acordo, mas não o cumpre. Vendo que, ao fim dos sete anos, sua filha mais velha - Leá (Léa, Léia ou Lia, em português) - continua solteira, Laván decide enganar Yaacóv, entregando-lhe Leá em casamento, no lugar de Rachel.

Yaacóv só percebe a troca ao amanhecer quando, à luz do dia, procura pelo rosto de sua amada e, não a podendo encontrar, percebe-se casado com Leá.

Então, Yaacóv procura Laván para questionar-lhe. Mas o que está feito, está feito. A solução é encontrada na forma de mais sete anos de trabalho pela mão daquela a quem ele amou primeiro.

Muitas outras histórias acontecem nesta parashá, mas não tenho por objetivo contá-las. Há doze anos, em 1998, conheci essa história. E não foi lendo a Bíblia, indo à sinagoga, ou conversando sobre religião.

Com meus 18 anos de idade, ainda não tinha conhecido o maior expoente da língua portuguesa, o poeta Luís Vaz de Camões. E foi no cursinho pré-vestibular que o professor Heric me apresentou ao soneto abaixo, e (indiretamente) à parashá acima.


"Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!"


Shabat shalom!

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