28 de dezembro de 2008

Festa das Luzes

É, eu sei. Está faltando um post sobre Chanucá. Mas como ainda acenderemos a última das velas esta noite, isso ainda me dá um dia inteiro para falar da Festa das Luzes (em hebraico: חג האורים - Chag haUrím).

Mas o que mais temos pra falar sobre a libertadora e gloriosa guerra dos Macabeus que já não tenha sido falado? De como a luta contra a assimilação e contra o Império Selêucida que ameaçava varrer para sempre o judaísmo da História foi bem sucedida, resultando, ao fim, na rededicação do Templo em Jerusalém e na independência da Judéia, duas décadas depois?

É. Isso tudo já foi falado. Mas o que aconteceu com os descendentes dos Macabeus? O que aconteceu após o milagre de Chanucá e a independência judaica?

"Macabeu" era o apelido de Yehudá, filho de Matitiáhu, iniciadores da revolta que se transformou em guerra. Todos os seus seguidores foram chamados a partir daí de macabeus. Matitiáhu, Yehudá, Shimón, Yonatán, Yohanán e Eliézer pertenciam à família sacerdotal dos Hasmoneus. Com a vitória macabéia e a independência judaica, os Hasmoneus foram alçados ao poder, dando início à dinastia Hasmoneana, que ocuparia o trono pelos próximos 115 anos.

No entanto, este era um "regime de exceção". Como os Hasmoneus eram uma família de Cohaním, foram alçados tanto ao poder político quanto ao poder religioso na Judéia. Nunca antes o trono havia sido ocupado por um sacerdote, ou um rei havia desempenhado o papel de Cohen-Gadol (Sumo-Sacerdote - כהן גדול). E a História tem provado desde a antigüidade que, quando isso acontece, bons ventos não costumam soprar.

Com a morte de Shimón (filho mais novo de Matitiáhu), seu filho Yohanán Hyrcanus assumiu o poder, transformando a Judéia, então, numa teocracia. Com direito a todos os mandos e desmandos de um governo típico deste regime. Era apenas a primeira geração dos Hasmoneus após a independência, e seu líder acabaria inaugurando um dos períodos mais tristes da História Judaica.

Seu ódio a tudo o que fosse helênico, o fez dedicar-se a acabar com tudo o que não fosse judaico. Numa guerra pela anexação da Samaria, arrasou a cidade de Shechém, destruindo o Templo israelita-samaritano do monte Guerizín, comandando o massacre da maior parte da população samaritana daquela época.

A partir de Hyrcanus, uma sucessão de monarcas judeus intolerantes ocuparam o trono, impondo o judaísmo e convertendo pessoas à força. Repetiam, tristemente, aquilo que havia sido feito contra os judeus no passado. Antes, Antíoco havia imposto pela violência o helenismo à população judaica; agora os monarcas hasmoneus impunham pela violência os judaísmo aos não-judeus que habitavam a Judéia. Diversas situações iriam gerar instabilidade no trono, levando a Judéia a perder sua soberania mais uma vez para um grande Império: Roma.

Eu poderia agora traçar um panorama geral do governo de cada rei desta dinastia, chegando a demonstrar como uma guerra civil de mais de 8 anos se instalou na Judéia, devido à intolerância dos hasmoneus e saduceus (tsedukím, partidários do judaísmo do Templo e contrários aos fariseus - prushím -, partidários do judaísmo sinagogal), os quais nunca aceitaram outra forma de judaísmo também como legítima. No entanto, não é a isso que este post se dedica.

O que proponho aqui é não nos repetirmos mais uma vez, evocando a glória e a luz dos macabeus ao acendermos nossas chanukiót, pois a luz não serve para iluminar o que já está iluminado. Não nos ofusquemos por tanta luz, mas saibamos deslocá-la sobre os períodos mais sombrios, iluminando-os para conhecê-los. Conhecê-los e não repeti-los.

Celebremos o milagre de Chanucá. O milagre de podermos nos iluminar a nós mesmos, possibilitando, assim, cumprir o propósito maior de irradiarmos luz entre os povos.

Chag Chanucá Samêach!!! - !!!חג חנוכה שמח

9 de dezembro de 2008

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Três irmãos

Às vezes acontece. Eu tinha certeza absoluta que não ia ter mais que 2 gatos na mesma casa! Eu tinha certeza que não agüentaria.

Mas uma gatinha me escolheu hoje. Foi impossível não trazê-la. Ela é linda!

E a família cresce!


Parashá Vayetsê - uma pequena reflexão

“E os filhos de Israel observarão o Shabat”; “E disse o Eterno a Moisés: fala aos filhos de Israel e à casa de Yaacov”; “No terceiro mês, após saírem os filhos de Israel do Egito”. Por que filhos de Israel e não de outro patriarca? Por que a Torá não se dirige a nós como filhos de Avraham ou filhos de Itzhak?

Nesta parashá vemos Yaakov fugindo de Essáv. A semente da segunda geração da promessa a Avraham era agora um fugitivo. Aquele D-us que havia falado a Avraham e mostrado seu poder a Itzhak, até então nunca havia se manifestado a Yaakov. E eis que acontece. Em sua fuga, um sonho no deserto, um sonho de promessas e, entre elas, a promessa de que D-us não abandonaria Yaakov.

Ele desperta de seu sono, pega a pedra que lhe havia servido de travesseiro, e faz dela um monumento a D-us. E diz: “SE D-us estiver comigo, e me guardar, e me der pão e roupas, e me fizer voltar em paz à casa de meu pai, o Eterno será D-us para mim.” – SE ele me fizer tudo isso, aí ENTÃO é que Ele será meu D-us.

Essa é uma atitude totalmente diferente em relação às atitudes tomadas por Avraham e Itzhak. Quando D-us falava com Avraham, ele simplesmente obedecia, como nos casos de “corte seu pípele”, “ofereça teu filho em sacrifício”, etc. Numa quase exceção, Avraham negocia com D-us a destruição de Sodoma e Gomorra. Sim ele negocia, barganha, mas... ele já confiava plenamente em D-us. O texto nunca nos traz a idéia de que Avraham abandonaria a crença e a confiança em D-us caso perdesse a barganha. Certamente, Avraham Avínu pensaria que “o juiz do mundo tem suas razões para fazer justiça deste modo”.

Itzhak. Muito pouco nos é relatado sobre Itzhak. No entanto, entre aquilo que é relatado, não podemos perceber nenhum movimento de inquietação ou questionamento. Itzhak aceita. Sempre aceita. Os inúmeros midrashím, que vêm complementar os buracos na narrativa da vida de Itzhak, o apresentam sempre como aquele patriarca que fez tudo o que seu pai queria. Não desafia, não questiona.

Aí vem Yaakov e, no meio de sua fuga D-us fala com ele. E ao acordar, ele não se comporta como se tivesse tido a maior das revelações. Ele não decide seguir a D-us em tudo o que Ele lhe disser. Ao contrário, faz um néder: Se D-us não me abandonar, então eu não O abandonarei também. Este é o espírito eu faltava! Se nessa narrativa, D-us fosse o Roberto Justus e a vida dos Patriarcas fosse “O Aprendiz”, esse seria o comentário: É isso o que eu estou procurando. Yaakov tem aquele tempero especial que faltava a Avraham e Itzhak, aleihém hashalom. E não se trata de afirmar que eles fossem menos especiais (chas veshalom!), mas se um ser sobrenatural se apresenta a você como todo-poderoso e ordena que o siga, é melhor fazê-lo, não? Afinal, Ele é o Todo-Poderoso. É mais fácil obedecer o Todo-Poderoso, do que desafiá-lo.

Não digo desafiá-Lo, desobedecendo-O, mas desafiá-Lo colocando-se como Seu colaborador: trabalhamos juntos aqui e eu devo ser respeitado da mesma forma que eu Te respeito! Yaakov é o patriarca que optou seguir a D-us. É o patriaraca que não aceitou o seu destino cegamente. É o patriarca que se inquietou, que questionou, que desafiou. E venceu. E seu nome se tornou Israel (mas isso é para a próxima parashá).

E talvez seja isso o que D-us espera de nós. Que sejamos inquietos, que busquemos nossas próprias formas. Quando só rezar com esperança e confiança em D-us pela cura de uma doença já não funcionava mais, o ser humano foi à busca da cura! Se D-us não forneceu a cura gratuitamente, cabe a nós a buscarmos por nós mesmos, utilizando-nos do nosso intelecto, presente maior do Eterno à humanidade.

Viver no Éden, de braços abertos, vivendo da providência divina é fácil demais: Você está demitido! Viver na aceitação de tudo o que lhe mandam fazer é conformismo demais: Você está demitido! Lutar pelo respeito, pelo direito a auto-afirmação, exercer ao extremo o seu direito como colaborador da criação, embora não sendo Todo-Poderoso... Por ter a “audácia” de questionar e tomar decisões, não desrespeitando Aquele de quem você também exige respeito... Por esse tempero: Você está contratado! E é por isso que sua descendência merecerá ser lembrada como os “filhos de Israel”.

D-us não abandonou a Yaakov e Yaakov cumpriu sua promessa, aceitando o Eterno. Moshé Rabêinu proclamou ao povo: “Escuta, Israel: o Eterno é nosso D-us! O Eterno é Um!”. E hoje nós dizemos ao nosso pai Yaakov: “Escuta, Israel: o Eterno continua a ser o nosso D-us! O Eterno continua a ser Aquele que não nos abandonou! E é assim que continuamos cumprindo o néder de Yaakov.