9 de dezembro de 2008

Parashá Vayetsê - uma pequena reflexão

“E os filhos de Israel observarão o Shabat”; “E disse o Eterno a Moisés: fala aos filhos de Israel e à casa de Yaacov”; “No terceiro mês, após saírem os filhos de Israel do Egito”. Por que filhos de Israel e não de outro patriarca? Por que a Torá não se dirige a nós como filhos de Avraham ou filhos de Itzhak?

Nesta parashá vemos Yaakov fugindo de Essáv. A semente da segunda geração da promessa a Avraham era agora um fugitivo. Aquele D-us que havia falado a Avraham e mostrado seu poder a Itzhak, até então nunca havia se manifestado a Yaakov. E eis que acontece. Em sua fuga, um sonho no deserto, um sonho de promessas e, entre elas, a promessa de que D-us não abandonaria Yaakov.

Ele desperta de seu sono, pega a pedra que lhe havia servido de travesseiro, e faz dela um monumento a D-us. E diz: “SE D-us estiver comigo, e me guardar, e me der pão e roupas, e me fizer voltar em paz à casa de meu pai, o Eterno será D-us para mim.” – SE ele me fizer tudo isso, aí ENTÃO é que Ele será meu D-us.

Essa é uma atitude totalmente diferente em relação às atitudes tomadas por Avraham e Itzhak. Quando D-us falava com Avraham, ele simplesmente obedecia, como nos casos de “corte seu pípele”, “ofereça teu filho em sacrifício”, etc. Numa quase exceção, Avraham negocia com D-us a destruição de Sodoma e Gomorra. Sim ele negocia, barganha, mas... ele já confiava plenamente em D-us. O texto nunca nos traz a idéia de que Avraham abandonaria a crença e a confiança em D-us caso perdesse a barganha. Certamente, Avraham Avínu pensaria que “o juiz do mundo tem suas razões para fazer justiça deste modo”.

Itzhak. Muito pouco nos é relatado sobre Itzhak. No entanto, entre aquilo que é relatado, não podemos perceber nenhum movimento de inquietação ou questionamento. Itzhak aceita. Sempre aceita. Os inúmeros midrashím, que vêm complementar os buracos na narrativa da vida de Itzhak, o apresentam sempre como aquele patriarca que fez tudo o que seu pai queria. Não desafia, não questiona.

Aí vem Yaakov e, no meio de sua fuga D-us fala com ele. E ao acordar, ele não se comporta como se tivesse tido a maior das revelações. Ele não decide seguir a D-us em tudo o que Ele lhe disser. Ao contrário, faz um néder: Se D-us não me abandonar, então eu não O abandonarei também. Este é o espírito eu faltava! Se nessa narrativa, D-us fosse o Roberto Justus e a vida dos Patriarcas fosse “O Aprendiz”, esse seria o comentário: É isso o que eu estou procurando. Yaakov tem aquele tempero especial que faltava a Avraham e Itzhak, aleihém hashalom. E não se trata de afirmar que eles fossem menos especiais (chas veshalom!), mas se um ser sobrenatural se apresenta a você como todo-poderoso e ordena que o siga, é melhor fazê-lo, não? Afinal, Ele é o Todo-Poderoso. É mais fácil obedecer o Todo-Poderoso, do que desafiá-lo.

Não digo desafiá-Lo, desobedecendo-O, mas desafiá-Lo colocando-se como Seu colaborador: trabalhamos juntos aqui e eu devo ser respeitado da mesma forma que eu Te respeito! Yaakov é o patriarca que optou seguir a D-us. É o patriaraca que não aceitou o seu destino cegamente. É o patriarca que se inquietou, que questionou, que desafiou. E venceu. E seu nome se tornou Israel (mas isso é para a próxima parashá).

E talvez seja isso o que D-us espera de nós. Que sejamos inquietos, que busquemos nossas próprias formas. Quando só rezar com esperança e confiança em D-us pela cura de uma doença já não funcionava mais, o ser humano foi à busca da cura! Se D-us não forneceu a cura gratuitamente, cabe a nós a buscarmos por nós mesmos, utilizando-nos do nosso intelecto, presente maior do Eterno à humanidade.

Viver no Éden, de braços abertos, vivendo da providência divina é fácil demais: Você está demitido! Viver na aceitação de tudo o que lhe mandam fazer é conformismo demais: Você está demitido! Lutar pelo respeito, pelo direito a auto-afirmação, exercer ao extremo o seu direito como colaborador da criação, embora não sendo Todo-Poderoso... Por ter a “audácia” de questionar e tomar decisões, não desrespeitando Aquele de quem você também exige respeito... Por esse tempero: Você está contratado! E é por isso que sua descendência merecerá ser lembrada como os “filhos de Israel”.

D-us não abandonou a Yaakov e Yaakov cumpriu sua promessa, aceitando o Eterno. Moshé Rabêinu proclamou ao povo: “Escuta, Israel: o Eterno é nosso D-us! O Eterno é Um!”. E hoje nós dizemos ao nosso pai Yaakov: “Escuta, Israel: o Eterno continua a ser o nosso D-us! O Eterno continua a ser Aquele que não nos abandonou! E é assim que continuamos cumprindo o néder de Yaakov.

Um comentário:

Rabino Uri Lam disse...

kol hakavod pelo blog e pelo comentário e pela nova Família Gato!
chag sameach
Uri