20 de janeiro de 2009

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OBAMA

Não se trata de fazer uma louvação ao novo presidente americano. Nem de "babar-ovo" nos EUA. Mas acho que deveríamos entender melhor o frenesi por trás da posse de Obama. Não se trata da eleição de um milagreiro. Trata-se da eleição do primeiro presidente negro da história daquele país.

Esta afirmação, por si só, pode dizer muito e não dizer nada. Sobretudo quando não se tem consciência total do que representa para a sociedade americana e para a sua História a eleição de um negro, filho de imigrantes.

Há apenas 45 anos mais ou menos, os EUA viviam um de seus períodos mais conturbados, com uma segregação racial que não permitia aos negros o acesso a muitas escolas, sem falar nas universidades, certos postos na sociedade, etc.

Uma situação muito diferente da do Brasil. Obviamente aqui existe sim (infelizmente) o preconceito - não só racial, mas acredito que em nenhum lugar do Brasil tenha se visto algo como cinemas "especiais" para negros, banheiros separados para os brancos e para os "de cor" (
colored, como se dizia lá) e até bebedouros separados:



Há pouco mais de 4 décadas pessoas como Malcom X e Martin Luther King morreram na luta pelo simples direito de todos os negros poderem beber água no mesmo bebedouro que um branco, para que houvesse de fato direitos iguais entre os cidadãos americanos, como previa a constituição daquele país.

Não acho que alguém deva se entregar à morte por uma causa, mas uma vez que essas mortes tenham ocorrido, resta sempre a pergunta: terá sido em vão?

As escadarias do Capitólio, erigidas pelo trabalho escravo - sombra histórica de todos os países do novo mundo - finalmente foram limpas do sangue afro derramado na construção da nação norte-americana. Hoje, um significado completamente novo ao "I have a dream" de Martin Luther King surgiu.

Quantas pessoas ali presentes não acreditavam que viveriam para ver o que presenciaram hoje? Aretha Franklin cantou como nunca. Ela, nascida em Memphis, que foi testemunha ocular da segregação, que viveu a época em que a KKK agia impunemente, estava lá num momento histórico sem precedentes. A voz de Aretha era a voz de Brother Malcom, era a voz das vítimas do Katrina, era a voz de tantos mártires dos capuzes brancos, era a voz das súplicas de gerações e gerações pela liberdade.

A eleição e posse de Barack Obama certamente representa uma mudança de certos paradigmas da sociedade americana. Mas espero que nem os americanos, nem o restante do mundo, caiam na velha armadilha, que nós brasileiros caímos em 1989, 1994 e 2002. A arapuca armada pela realidade nua e crua.

O mundo não vai mudar drasticamente, nem os EUA passarão por uma brusca transformação a partir de amanhã. Não nos esqueçamos que nenhum homem mudou os paradigmas da política. Obama é um presidente, e política é política. Sua eleição e posse é um marco. Suas credenciais são indubitavelmente ótimas. Mas obviamente haverá escândalos, controvérsias, medidas duras que deverão ser tomadas e que poderão acabar decepcionando a muitos.

Tenhamos isso em mente, e, ao fazermos o balanço entre prós e contras, veremos daqui a 4 anos que Obama terá feito uma incrível administração. Boa sorte ao novo presidente. Boa sorte ao povo americano e parabéns pela sua escolha.

Um comentário:

Rabino Uri Lam disse...

Não por ser meu amigo, mas um dos textos mais lúcidos que si sobre a posse de Obama. Tá demorando prá surgir o samba-enredo "Mestre Obama pede passagem, prá passar com a bateria, vem todo cheio de vontade, prá salvar a economia!"
Em Israel se diz que ainda vai levar um tempinho para o país eleger um mizrachi:-) torçamos para que logo chegue o dia, e que ele (ou ela) seja um grande estadista. Estamos precisando!
te desejamos sucesso, Obama.