4 de setembro de 2011

Um pouco mais sobre ashkenazim e sefaradim

Como sabemos, há muito tempo o judaísmo se encontra dividido basicamente entre dois grupos, baseados numa classificação geográfica: Ashkenazim e Sefaradim.
- Ashkenazim = judeus cujos ancestrais das Idades Média e Moderna eram provenientes da Europa Central (França, Alemanha, Áustria) e da Europa Oriental (Polônia, Romênia, Rússia, Ucrânia, Lituânia);
- Sefaradim = judeus cujos ancestrais das Idades Média e Moderna eram provenientes da Península Ibérica (Espanha e Portugal).
No entanto, existem ainda outros grupos, conforme segue:
- Mizrachím = judeus cujos ancestrais das Idades Média e Moderna eram provenientes dos diversos territórios do Oriente Médio. Judeus do Iraque e do Irã, já se encontravam naquela região desde o período entre o 1º e o 2º templo (há uns 2600 anos!)
- Teimaním = apesar do Iêmen (Teimán, em hebraico) ser um país do Oriente Médio, o judaísmo desenvolvidao por aquela comunidade ganhou características muito específicas, diferenciando-se sobremaneira do judaísmo mizrachí em geral;
- Magrebím = judeus do Norte da África (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito) estabelecidos na região desde os tempos da expansão helenista e romana (há uns 2200 anos!). As comunidades mais antigas eram as da Mauritânia, Cirenaica, Cartago e Alexandria.
- Italkím = judeus da península itálica, estabelecidos na região desde a época do Império Romano (aproximadamente 2200 anos atrás).
Então por que costumamos dizer que um judeu marroquino ou egípcio é sefaradi?
UM POUCO DE HISTÓRIA
Como sabemos, a partir da queda do 1º Templo teve início um processo diaspórico judaico, quando os judeus foram exilados na Babilônia (Iraque e Irã atuais).
Mesmo após o retorno à terra de Israel e construção do 2º Templo em Jerusalém, esse processo de espalhamento continuou. Assim se formaram outras comunidades fora da Judeia: Mizrachím, Magrebím e Italkím.
Após a destruição do 2º Templo (70 e.c.) e a 3ª Guerra Judaico-Romana (conhecida como Revolta de Bar Cochbá), iniciou-se a formação das comunidades Sefaradim e Ashkenazim (fruto do espalhamento promovido por Roma). Há quem ateste que já havia alguma comunidade na Península Ibérica antes da queda do Templo.
Muitos séculos se passaram e, em 1492, os judeus são expulsos da Espanha. A grande maioria foge para Portugal. Contudo, em 1496 os judeus são convertidos por decreto e, a partir desta data, “não existem mais judeus em Portugal”. Os outrora judeus passam a ser designados como cristãos-novos.
Pouco tempo mais tarde, em 1536, a Inquisição é instalada em Portugal. Começa, então, um processo de inúmeras vagas imigratórias. Os judeus que tinham oportunidade e condições de fugir de Portugal começaram a fazê-lo.
Estes sefaradím começam a se espalhar pelo Magrebe (norte da África), Itália, Holanda, Colônias da América Portuguesa, Espanhola, Inglesa e/ou Holandesa e Oriente Médio. Alguns têm seu paradeiro traçado até o Leste Europeu (provavelmente em sua rota em direção ao Oriente Médio).
Na maior parte desses lugares, os sefaradím encontram comunidades há muito estabelecidas, nas quais foram recebidos e absorvidos. Religiosamente, porém, foram os sefaradím que acabaram influenciando em grande parte a prática dos judeus já estabelecidos.
Isso explica a tendência natural de chamar os judeus árabes de sefaradím, embora historicamente, antropologicamente, geograficamente e liturgicamente não seja correto. Isso também explica porque os judeus ashkenazim do leste Europeu passam a adotar o nússach (rito litúrgico) Sefarad, diferenciando-se sobremaneira do nússach ashkenazi alemão e austríaco.
Mas o movimento imigratório não atingiu apenas os sefaradím. Também entre os Ashkenazim houve momentos de perseguição durante a Idade Média. A partir do ano 1000, iniciou-se uma série de perseguições na Europa cristã contra os judeus, os quais basicamente foram declarados culpados por Jesus não ter retornado à Terra no Réveillon daquele ano.
Depois desta data, entre os séculos XI e XIV, muitos acontecimentos influenciaram direta e indiretamente as comunidades judaicas europeias. Foi nesta época que ocorreram as as Cruzadas, a Peste Negra, os Libelos de Sangue e outras acusações promovidas ora por clérigos da Igreja, ora por populares. Como resultado, os judeus começaram a imigrar de tempos em tempos entre os vários países do centro e do leste europeu.
É por esse motivo que, já nos séculos XVIII e XIX podemos encontrar tantos sobrenomes tipicamente germânicos entre judeus russos e poloneses, e sobrenomes claramente eslavos entre tantos judeus alemães. Também começam a aparecer sobrenomes germânicos escritos de acordo com a grafia polonesa (como Sztajn e Zylber, por exemplo), ou grafados de acordo com a pronúncia yídishe, na qual o germânico Kaufman vira Coifman.
Neste processo imigratório, alguns judeus da Europa Central também se fixaram na Península Itálica. Por isso há sobrenomes judaico-italianos que são tradução direta de sobrenomes germânicos: Tedesco (Deutsche), Montefiore (Rosenberg), entre outros. Assim, com o tempo, praticamente toda a comunidade judaica mundial estava polarizada entre ashkenazim e sefaradim, os quais, devido a seu histórico imigratório, tornaram-se os dois maiores troncos do judaísmo, e influenciando diretamente a prática judaica.
Shavúa tov!
Moré Theo Hotz

Um comentário:

itschac47 disse...

Moré Theo,você é realmente uma verdadeira biblioteca historica ambulante,conceitos que eu não sabia,passo a saber a partir de suas explanações historicas judaicas,parabens pela desenvoltura expressa de seu artigo.Shalom!!